Uso inadequado da Ritalina pode levar os pacientes à dependência do medicamento e trazer prejuízos no desenvolvimento de crianças.
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O metilfanidato, vendido com o nome de Ritalina ou Concerta, é uma droga que estimula o sistema nervoso central aumentando a concentração da dopamina e da noradrenalina, neurotransmissores do cérebro, e é indicada para o tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O problema é causado pelo mau funcionamento de estruturas neurais e tem como sintomas mais comuns a dificuldade de concentração, inquietude e impulsividade.
A ritalina possui o mesmo mecanismo de ação das substâncias anfetaminas e da cocaína, que são altamente viciantes. Esses tipos de substância aumentam a concentração de dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer, que possui um efeito de êxtase no cérebro. Isso pode estimular o usuário a querer tomar mais do que a dose recomendada, tornando-o dependente.
A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de 4% dos adultos e de 5% a 8% de crianças e adolescentes em todo o mundo tenham TDAH. No entanto, os dados sobre o comércio da droga no Brasil indicam uma discrepância no uso. Especialistas afirmam que os números podem indicar a prescrição desnecessária do medicamento.
De acordo com psicólogo Antonio José dos Santos, o uso indevido do medicamento pode provocar problemas graves, como alucinações, delírios e até morte, em caso de ingestão de altas doses. O especialista ressalta que se ingerido sem acompanhamento médico e por um longo período pode causar dependência.
O mito da “pílula de inteligência”
Sem necessidade médica a Ritalina virou uma companheira dos concurseiros e estudantes que, conseguem o remédio ilegalmente ao comprar receitas médicas ou caixas do remédio pela internet.
Apesar da sua fama de “pílula da inteligência”, a Ritalina foi desmistificada por uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A pesquisa mostra que a pílula não causa nenhum tipo de benefício à atenção, funções executivas ou memória do jovem que não possui o transtorno.
Além da possibilidade de dependência, inúmeras pesquisas já feitas sobre a Ritalina mostram o perigo dos seus efeitos colaterais, tanto a pacientes com necessidades médicas, quanto aqueles que não necessitam do uso.
Na pesquisa feita pela Unifesp, o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, diretor do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad) da Universidade, alerta que há perigos quando o medicamento é usado inadequadamente, podendo causar, dentre outros problemas, complicações no coração e levar a um quadro de arritmia cardíaca. Já o psicólogo Antonio José dos Santos,contou que em pesquisas realizadas já foram “observados sintomas como: náuseas, vômitos, dores de cabeça, tonturas, sonolência e, em alguns casos, um ‘efeito zumbi’, como uma desorientação temporal e espacial”.
O uso indevido em crianças
No caso do uso em crianças, que tem seu organismo ainda em fase de formação, a Ritalina vem sendo indicada de maneira indiscriminada, sem o devido rigor no diagnóstico, afirmam especialistas.
“Hoje a gente está imerso em uma sociedade altamente medicalizada em que os problemas naturais do dia a dia são vistos como doença. Hoje a gente não diz 'estou triste', diz 'estou deprimido'. Não tem mais crianças espontâneas, ativas, brincalhonas, tem crianças hiperativas”, afirma Ligia Sena, que tem pós-doutorado em Farmacologia.
Segundo ela, o consumo sem necessidade pode fazer com que as crianças fiquem prostradas, apáticas, quietas, mas também pode haver um “efeito paradoxo”: “Ás vezes ela fica mais agitada, ansiosa e aí a família entra em desespero porque nem a droga conseguiu controlar”.
No geral, o que se percebe é a perda da capacidade criativa, da eloquência, do interesse, interferindo na personalidade e reduzindo o potencial inventivo da criança que demonstram claramente ter um diferencial em relação às demais.
Ligia Sena afirma que o problema não está nas crianças, mas nos adultos: “Nós estamos cada vez menos hábeis a lidar com a infância da forma que ela é, com os anseios e necessidades naturais das crianças. A vida está muito corrida, estamos trabalhando muito e não temos mais tempo para brincar com nossos filhos ou para desenvolver um método educativo que acolha realmente essas crianças de uma forma igualitária.
O fato de eu querer que a minha filha fique ali boazinha enquanto eu estou trabalhando é um interesse meu, não é um problema dela. As crianças não estão ficando doentes. O que está acontecendo é uma redução da habilidade de mães, pais, profissionais de saúde e educadores de lidar com as diferenças naturais das crianças, de respeitar as diferenças", argumenta.
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